quarta-feira, 1 de novembro de 2023

quarta-feira, 24 de julho de 2019






"Cartas que vão e vêm. Como é dura a rotina das correspondências em um mundo digitalizado como o nosso. Certo dia, havia um contrato a ser assinado e necessitava das firmas reconhecidas de todos os envolvidos no processo. O despachante da importante empresa de assessórios para automóveis deveria encaminhar o documento para que o seu   fornecedor   de   matéria-prima   assinasse   e,   assim,   pudessem   renovar   por   mais quatorze meses a duração do novo contrato. As empresas, que terminaram no último trimestre a fase de experiência, decidiram pela parceria, apesar de uma concorrente estar estremecendo a negociação por meio de promessas de menor preço e melhor qualidade nos   produtos.   Porém,   o   responsável   pela   compra   levaria   consigo   um   prêmio   de bonificação pelo esforço nas negociações por parte da fornecedora com quem teve o período de experiência. E encaminhou a carta. Após um dia inteiro, o envelope com o contrato deveria chegar na manhã seguinte, assim, retornaria no terceiro dia. Com esse prazo,  que agora se fazia   muito   apertado,  as  empresas poderiam registrar o novo contrato no último dia  do ano contábil  e economizariam, assim,  9 % no custo de impostos diretos. A partir do ano seguinte o governo estadual iniciaria a cobrança de uma nova taxa para importantes empresas de assessórios de automóveis. Havia, no governo, uma ideia de acabar com o consumo de carros naquele estado, e para substituir a matriz de transporte seria feito investimentos pesados em transporte coletivo. Tudo com propinas e desvio de verbas para a campanha a ser disputada no ano seguinte já incluídos na base de cálculo das obras e serviços. Na empresa que forneceria as matérias-primas, um jovem, recém formado na faculdade de educação física, filho de um pai que acabara de safá-lo de uma temporada na cadeia estadual por estar envolvido com o tráfico de drogas no bairro onde vivia,estava esperançoso que conseguiria reverter sua sorte, iniciar uma nova vida. Ao menos era o que dizia sempre em seus discursos aos recomendosos amigos e companheiros da pequena cidade do interior de Goiás, e frequentemente, a ele mesmo. Mas em seu próprio interior duvidava que conseguisse se livrar do vício, adquirido após noites deteto branco, de falas sem ouvidos, de bagunça sem limites e de genética (des)favorável.Não sabia muito bem a origem do tal vício, todavia, talvez não fosse nada disso. Ao importante: no dia esperado a carta  não  chegou. O jovem, ainda inexperiente,  não atentou para o fato. O fabricante (mal educado, mais abaixo se explicará o motivo) da importante   empresa   de   assessórios   para   automóveis   primeiro   passou   um   e-mail preocupado com a demora na resposta. Sem obter retorno, telefonou e foi informado que o proprietário e responsável pelas assinaturas, o jovem, chegaria apenas depois do almoço ao escritório, conforme o próprio havia informado a sua secretária. Sua velha secretária. Recém contratada, porém velha. O fabricante (mal educado), já convencido de que sua   preocupação sobre   seu estado  recente  de  fervorosa preocupação  estava correta  decidiu   ser  paciente   e   aguardar,   mesmo  apresentando   a   falta  de   educação,característica das pessoas que são mal educadas, à velha-recém-contratada-secretária. À tarde o jovem chegou, e foi informado pela velha-recém-contratada-secretária que seu primeiro acordo comercial estava sob risco caso não assinasse o contrato naquele dia,reconhecesse as firmas das assinaturas (apesar do nome não é preciso ter uma firma constituída para se reconhecer uma firma, trata-se apenas da assinatura, mas na cabeçado jovem imaginava ir ao cartório e olhar uma série de fotos de empresas até que se reconhecesse a sua. Se divertia com a ideia) e encaminhasse o contrato de volta pelo correio. E a carta, ao final do dia, e após de mais (de) uma (dúzia de) ligação do mal educado, não chegou. Ligou-se para a empresa de correios para rastrear o documento,há essa opção hoje em dia, e como resposta ouviu-se que sequer existia no sistema o número informado. O mal educado esbravejava e dizia que iria até a agência para falar com o gerente, talvez com o presidente da empresa de correios, mas foi soube pela telefonista   que   isso   só   seria   possível   na   tarde   do   dia   seguinte,   uma   vez   que comemorariam o dia do carteiro no período da manhã. Mal educado ficou ainda mais mal educado, e telefonou para o jovem para informar a situação. O jovem disse que não era culpa dele o ocorrido, e que não se responsabilizaria por localizar o tal envelope que havia sumido. Mal educado disse que parecia que jovem estava fazendo pouco caso da situação, e que não estava sendo solidário com o parceiro, mesmo após um trimestre de boas   relações.   Jovem   reforçou   que   a   culpa   não   era   dele   e   que   se   mal   educado continuasse com aquelas acusações ficaria extremamente ofendido e iria para casa dizer ao pai que a empresa não deu certo por causa dos maus parceiros que havia no mercado.Não, essa última parte ele só imaginou, não disse. Mal educado então disse que talvez fosse melhor conversar com o concorrente. E jovem disse para que ele fizesse o que julgasse correto, mas que parasse de gritar com ele, pois, como já havia dito, não tinha culpa. A isso, mal educado respondeu que não era uma questão de culpas, mas sim de uma relação comercial que corria o risco de não acontecer por uma falha que naquele momento não importava quem havia cometido. Jovem somente repetia que não gritasse tanto e que assim que o envelope chegasse assinaria o contrato e reconheceria as firmas conforme acordado pelos departamentos jurídicos  das  duas  empresas. Mal  educado disse a jovem que este era muito jovem, e que não entendia que o atraso implicaria naquele aumento de 9 % supracitado (que não é tão agradável para ser lido novamente).Jovem, outra vez, repetia que não era sua culpa, não estava assinando por que não havia chegado o documento, mas assim que chegasse assinaria.  Mal educado   desligou o telefone. Jovem sabia que era uma situação difícil, mas ponderava que não era sua culpa repetia sempre essa palavra, como um mantra), e, assim, não precisaria explicar muito a todos caso o negócio não evoluísse. Ele ficou contente por ter ganho a discussão, e se pegou sorrindo por isso. Mal educado foi ao responsável pelo envio de cartas da sua importante empresa, o despachante, e perguntou o que havia ocorrido. Pediu, também, o recibo dos correios, pois ingressaria com uma ação na justiça contra a empresa por considerar que havia sido prejudicado por alguém, e alguém, esse alguém, deveria ser punido. O despachante não encontrou o recibo. Todos os dias, durante todo o tempo que trabalhou na importante empresa de assessórios para automóveis, antes de checar seus emails, procurava o recibo. Chegava mais cedo que todos para não parecer que fazia o que estava fazendo. Durou 5 anos,quatro meses e 1 dia com a mesma rotina. Certo dia, teve um sonho, o qual contou para a esposa durante o café da manhã: Era um lugar escuro, fechado, estava sufocado emmeio   a   tantos   papéis.   Um   cheiro   forte   que   reconheceu   ser   de   lona   de   caminhão impregnava o ambiente. Ele sacudia. Ouvia um assobio que vinha do lado de fora, e sabia que aquela música era um tango. Uma luz queria ter permissão para entrar, mas o escuro predominava, enxergava-se pouco. E o assovio continuava. E balançava. De repente um papel gigante foi se aproximando dele; Possuía uma espécie de boca e sussurrou em seu ouvido, mesmo ele percebendo que não tinha ouvido. A voz dizia "não suporto mais, tenho que me libertar. Eu simplesmente não quero ir para onde estou indo".   E   ele   respondeu   "e   por   que   você   vai   então?".   "Não,   eu   não   vou".   A   luz finalmente conseguiu uma autorização e entrou. O papel, pôde ver, era um envelope,assim como ele, assim como todos que estavam deitados ao seu lado e não falavam nada, apesar de terem boca. Estavam inertes, entregues. Apenas o envelope que lhe sussurrou estava em pé. Conseguiu ver algo escrito: importante empresa de assessórios para automóveis. O envelope olhou mais uma vez para ele antes de sair e disse "eu simplesmente não quero ser entregue. Você pode fazer o mesmo, mas só se não quiser ser entregue. Se for para seguir meu exemplo, sem ter um objetivo que venha de dentro de   você,   fique   aí   como   os   outros".   “Ele   recebeu   aquilo   intimidativamente   e simplesmente ficou ali.”. Quando acordou era o dia de 5 anos, quatro meses e 2 dias. A partir daquele dia chegava no mesmo horário que seus colegas. Agora compreendeu tudo e poderia dormir tranquilo."

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Reto. R. No...

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"A minha está esvaziando. Li que para se tomar outro chá a xícara precisa estar vazia. Pois bem, cá estamos, esvaziando xícaras em doses mais lentas que o necessário, porém, esvaziando-as. As xícaras da rotina, certamente. Das canções pobres, também. Para os sambas ricos, procuramos sempre xícaras maiores e mais fundas; a minha já está como o novo Maracanã. A saudade é que se cheia todos os dias um pouco mais. Ela é danada e nos faz perceber o quão humanos somos, e o quanto é maravilhosa essa condição. Vou seguir em minha busca, todos os dias, até que as xícaras sejam todas de porcelana."

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Autoria Iraê Abate e Léo Professor "Por Mais Injusta Que Seja"

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Por Mais Injusta Que Seja






Quanto amor cabe dentro de uma lágrima,
Que ao sair carrega junto o coração?
Uma história que nunca se esquecerá,
Começa com um sim, e no final se diz um não.

Por mais injusta que a vida seja,
Que nos coloque no mesmo caminho.
Basta um dia que eu te veja,
Menos um dia a sofrer sem seu carinho.

Que a distância nos faça melhorar.
Que o silêncio nos faça esquecer.
Que o amor que eu sinto por você,
Vou fazer força para desaparecer.

E a parede branca das noites que hoje vejo,
E o espelho vermelho daquelas manhãs,
São histórias que um dia contarei
Com um sorriso terno, com cavaco e tantans.


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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

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Em uma cidade onde não se vê mais que o vermelho de um chão percebe-se que as pessoas começam a valorizar suas raízes, sua cultura. Cantam e dançam suas músicas sem terem de que se envergonhar, sabem que não há cultura melhor ou pior, somente culturas próprias. Talvez não saibam, mas o praticam. Tão absortos que estão em suas felicidades dançantes, não percebem uma estrela cadente que risca o gelado céu de um agosto. Atenção, as estrelas cadentes são tão importantes quanto o que se aprendeu a valorizar. E hoje, que durmam felizes. Esta última frase não precisaria ter sido escrita...







..."

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

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A sala era escura, o ar estava faltando. Do carpete verde saía um cheiro, cheiro de carpete verde. A boca das pessoas pronunciava a pobreza cantada, a pobreza mais feliz que podiam entoar. O teto baixo ajudava a abafar a má qualidade musical da reunião. E no meio deles, eu estava ali. O que fazia? Era mais um miserável, cantando uma música feliz. Mas tinha tristeza, pois buscava algo que sabia que não encontraria cantando, algo que talvez não encontrasse em qualquer outro lugar: a outra parte da minha vida. Ela se foi, ela nunca veio, ela nunca veio. Saía de lá com a mente anestesiada, tamanha a sensação de entorpecimento que aquela atmosfera proporcionava, e tentava não pensar em como a vida seria mais Marrocos se encostássemos os anéis. Criei uma revolta dentro de mim capaz de provocar todas as revoluções ao mesmo tempo. Porém, sabia que nada disso tiraria ela de dentro de mim. Ela ainda está aqui.









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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

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Sabe que fazia tempo que eu não chorava? Sabe que fazia tempo que o peito não cabia dentro de um punho fechado? Um punho que carrega todas as dores de um dia todo em São Paulo. Havia algum tempo também que o asfalto não esquentava tanto, e que os carros não saíam todos de uma só vez. Não se enxerga mais o céu, só o cinza, o cinza do céu. A dor de todos os partos volta às mães que já tiveram seus filhos. Policiais não conseguem organizar, abrem os portões de todas as cadeias da cidade. Os filhos ouvem as discussões de seus pais, e choram escondidos sob o armário do quarto escuro e desarrumado. Tudo ao mesmo tempo. É que eu estou olhando pela janela, estou em casa. O caos voltou. Estava com saudades.






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Documentário Parque Estadual Serra do Mar Núcleo São Sebastião

Como diz o samba do Salgueiro de 2024, "falar de amor enquanto a mata chora é luta sem flecha da boca para fora".