segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

"











Em uma cidade onde não se vê mais que o vermelho de um chão percebe-se que as pessoas começam a valorizar suas raízes, sua cultura. Cantam e dançam suas músicas sem terem de que se envergonhar, sabem que não há cultura melhor ou pior, somente culturas próprias. Talvez não saibam, mas o praticam. Tão absortos que estão em suas felicidades dançantes, não percebem uma estrela cadente que risca o gelado céu de um agosto. Atenção, as estrelas cadentes são tão importantes quanto o que se aprendeu a valorizar. E hoje, que durmam felizes. Esta última frase não precisaria ter sido escrita...







..."

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

"













A sala era escura, o ar estava faltando. Do carpete verde saía um cheiro, cheiro de carpete verde. A boca das pessoas pronunciava a pobreza cantada, a pobreza mais feliz que podiam entoar. O teto baixo ajudava a abafar a má qualidade musical da reunião. E no meio deles, eu estava ali. O que fazia? Era mais um miserável, cantando uma música feliz. Mas tinha tristeza, pois buscava algo que sabia que não encontraria cantando, algo que talvez não encontrasse em qualquer outro lugar: a outra parte da minha vida. Ela se foi, ela nunca veio, ela nunca veio. Saía de lá com a mente anestesiada, tamanha a sensação de entorpecimento que aquela atmosfera proporcionava, e tentava não pensar em como a vida seria mais Marrocos se encostássemos os anéis. Criei uma revolta dentro de mim capaz de provocar todas as revoluções ao mesmo tempo. Porém, sabia que nada disso tiraria ela de dentro de mim. Ela ainda está aqui.









..."


terça-feira, 7 de dezembro de 2010

"











Sabe que fazia tempo que eu não chorava? Sabe que fazia tempo que o peito não cabia dentro de um punho fechado? Um punho que carrega todas as dores de um dia todo em São Paulo. Havia algum tempo também que o asfalto não esquentava tanto, e que os carros não saíam todos de uma só vez. Não se enxerga mais o céu, só o cinza, o cinza do céu. A dor de todos os partos volta às mães que já tiveram seus filhos. Policiais não conseguem organizar, abrem os portões de todas as cadeias da cidade. Os filhos ouvem as discussões de seus pais, e choram escondidos sob o armário do quarto escuro e desarrumado. Tudo ao mesmo tempo. É que eu estou olhando pela janela, estou em casa. O caos voltou. Estava com saudades.






..."

Documentário Parque Estadual Serra do Mar Núcleo São Sebastião

Como diz o samba do Salgueiro de 2024, "falar de amor enquanto a mata chora é luta sem flecha da boca para fora".